sábado, 11 de setembro de 2010

UMA INIMIZADE DEUS ESTABELECEU.

Impossível haver harmonia entre virtude e vício, verdade e erro, honestidade e vileza, justiça e iniqüidade. Como também é impossível haver consórcio entre a luz e as trevas, os filhos da Virgem e os filhos da serpente infernal. Pois os inimigos de Deus não podem ser nossos amigos. Vejamos o que, a esse respeito, diz o grande apóstolo marial, autor do célebre Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, São Luís Grignion de Montfort:

"Inimicitias ponam inter te et mulierem, et semen tuum et semen illius; ipsa conteret caput tuum, et tu insidiaberis calcaneo eius" (Gn 3, 15): Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dEla. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar.

"Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de durar, mas aumentar até o fim: a inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e sequazes de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio. Ele lhe deu até, desde o paraíso, tanto ódio a esse amaldiçoado inimigo de Deus, tanta clarividência para descobrir a malícia dessa velha serpente, tanta força para vencer, esmagar e aniquilar esse ímpio orgulhoso, que o temor que Maria inspira ao demônio é maior que o que lhe inspiram todos os anjos e homens e, em certo sentido, o próprio Deus.

Não que a ira, o ódio, o poder de Deus não sejam infinitamente maiores que os da Santíssima Virgem, pois as perfeições de Maria são limitadas; mas, em primeiro lugar, Satanás, porque é orgulhoso, sofre incomparavelmente mais, por ser vencido e punido pela pequena e humilde escrava de Deus, cuja humildade o humilha mais que o poder divino; segundo, porque Deus concedeu a Maria tão grande poder sobre os demônios, que, como muitas vezes se viram obrigados a confessar, pela boca dos possessos, infunde-lhes mais temor um só de seus suspiros por uma alma, que as orações de todos os santos; e uma só de suas ameaças, que todos os outros tormentos.

"O que Lúcifer perdeu por orgulho, Maria ganhou por humildade. O que Eva condenou e perdeu pela desobediência, salvou-o Maria pela obediência. Eva, obedecendo à serpente, perdeu consigo todos os seus filhos e os entregou ao poder infernal; Maria, por sua perfeita fidelidade a Deus, salvou consigo todos os seus filhos e servos e os consagrou a Deus.

"Deus não pôs somente inimizade, mas inimizades, e não somente entre Maria e o demônio, mas também entre a posteridade da Santíssima Virgem e a posteridade do demônio. Quer dizer, Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios secretos entre os verdadeiros filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e escravos do demônio. Não há entre eles a menor sombra de amor, nem correspondência íntima existe entre uns e outros. Os filhos de Belial, os escravos de Satã, os amigos do mundo (pois é a mesma coisa) sempre perseguiram até hoje e perseguirão no futuro aqueles que pertencem à Santíssima Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú, seu irmão Jacob, figurando os réprobos e os predestinados. Mas a humilde Maria será sempre vitoriosa na luta contra esse orgulhoso, e tão grande será a vitória final que Ela chegará ao ponto de esmagar-lhe a cabeça, sede de todo o orgulho. Ela descobrirá sempre sua malícia de serpente, desvendará suas tramas infernais, desfará seus conselhos diabólicos, e até o fim dos tempos garantirá seus fiéis servidores contra as garras de tão cruel inimigo". (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Ed. Vozes - VII Edição, Petrópolis, 1971, pp. 54-56) (grifos nossos).

SÃO LUÍS GRIGNION DE MONFORT

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